domingo, 17 de maio de 2015

Giramunddo/Irish Red Ale

Ilustríssimos, é com uma alegria pra lá de imensa que escrevo o post que vossas excelências estão a ler. Isso porque, após apenas 2 meses desde que decidi que iria incluir em meu blog também avaliações de cervejas, recebi o primeiro pedido de amigos para que escrevesse algo a respeito de sua cerveja e o publicasse por aqui.

Como muitos de vocês sabem, me nego veementemente a incluir nessa singelo blog posts desses que vocês encontram a dar com o pé internet afora, de criaturas “julgando” cervejas (cujo texto completo se resume a: “cor dourada, aroma doce com notas de pirilimpimpin e sabor de vidro temperado); e fazendo blogs inteiros para hospedar isso. Longe de mim julgar certo e errado, ou dizer o que cada um deve fazer com seu blog, mas um pouco de estudo e conhecimento, bem como um texto bem elaborado fazem toda a diferença, ainda mais quando se trata de um assunto tão complexo,e ao mesmo tempo tão prazeroso de se estudar como é o mundo da cerveja. Bom desta forma demorei muito a me convencer a fazer o primeiro, até que em fevereiro tomei coragem, venci as barreiras por mim mesmo impostas e resolvi incluir também uma resenha por aqui.

Pelo visto não foi uma má decisão, haja visto que o feedback que tenho recebido é excelente, mesmo daquele punhado de leitores dentre vós que adoram os textos de 10 páginas descrevendo até mesmo os hobbies das leveduras selvagens belgas. E foi dessa forma, e graças a essa nova fase do blog que surgiu a oportunidade de degustar e escrever a respeito da Irish Red Ale da Giramunddo. Após coletar mais algumas informações junto ao orgulhoso pessoal da microcervejaria curitibana, consegui enfim escrever esse - quiçá histórico - post.


Conheci a cerveja e por tabela um pouco mais da cervejaria Giramunddo através de um colega de trabalho, o qual certo dia teve a feliz ideia de trazer um exemplar para que eu o pudesse degustar e quem sabe tagarelar um pouco a respeito. A Giramunddo (nome inspirado na música Giramunddo, do Manu Chao) é uma cervejaria curitibana conduzida pelos três amigos Nardel Correa Peixoto - sommelier de cervejas pela Universidade Positivo, além de pai de meu colega - Augusto Koga e Marcelo Freitas, ambos cervejeiros caseiros há 3 anos, e assim como Nardel prestes a se formarem sommeliers de cerveja pela Science of Beer.



“Com boas cervejas podemos divulgar ainda mais a cultura cervejeira na região e fazer com que mais pessoas conheçam as cervejas artesanais, promovendo o consumo consciente de cervejas.” - Giramunddo

Assim como quase todos os outros projetos cervejeiros, essa microcervejaria iniciou os trabalhos com um investimento bastante modesto, de apenas 1300 reais - preço médio de um kit de homebrewing como se pode encontrar com facilidade na internet. Hoje, após alguns lotes de cerveja e bastante experiência adquirida, o patrimônio cresceu, girando em torno de 3000 reais dedicados exclusivamente à produção, segundo informações do próprio pessoal.

Das instalações da cervejaria fazem parte, entre outros: um fogareiro de alta pressão, três panelas, filtro, resfriador, um fermentador e uma geladeira. Além disso, as quatro geladeiras disponíveis para fermentação e maturação permitem o armazenamento – nada modesto para um projeto relativamente pequeno – de 160 litros de cerveja fermentando ou maturando ao mesmo tempo. Entretanto, essa capacidade não consegue ainda ser totalmente aproveitada, uma vez que as panelas permitem a fabricação, por lote, de apenas 40 litros.

Essa capacidade deverá ser aumentada num futuro próximo, o que será necessário se os cervejeiros quiserem alcançar seu sonho de registrar as suas cervejas junto ao MAPA, requisito para que possam ser produzidas em escala comercial e ser encontradas nas melhores lojas especializadas da cidade; e por que não permitir que os três integrantes passem a viver disso, certo?

Dentre as cervejas que já foram produzidas pela Giramunddo, há estilos tão variados quanto Vienna Lager, Foreign Extra Stout, Tripel e IPA, além dessa Irish Red. Já é um bom leque para um projeto tão recente, motivo pelo qual os integrantes admitem que o objetivo no momento é aperfeiçoar as receitas já conhecidas, aventurando-se apenas aos poucos em outros estilos. Uma escolha prudente, a meu ver, para não perder o foco e acabar fazendo cervejas apenas meia-boca na ânsia de experimentar de tudo.

No caso da Irish, a escolha por parte dos integrantes de fazer esse estilo foi também no sentido de experimentar, uma vez que, apesar de gostarem muito do estilo e das características mais maltadas, não haviam feito nenhuma cerveja nesse sentido.

A cerveja

A cerveja Irish Red Ale (termo raramente pronunciado na Irlanda, mas conhecida assim mundo afora), é um estilo que conta com uma ótima drinkability, suave e fácil de degustar; é uma cerveja conhecida antes de mais nada pela sua bela coloração âmbar-avermelhada, e suas fortes características de malte, bem como o docinho caramelizado proveniente delas. Além disso, o uso de maltes torrados quando da fabricação desse estilo cada vez mais popular também em terras tupiniquins, tende a conferir um final seco, com aparições apenas muito tímidas por parte do amargor do lúpulo.

Como já mencionado, por gostarem do estilo, e se identificarem com justamente essas características, o pessoal da Giramunddo resolveu dar uma chance e enveredar por esse novo caminho. Eu gostei do resultado, achei que faz jus ao estilo, sendo bastante condizente.

O exemplar da ilustre cervejaria passou por um tempo de maturação de 6 semanas antes de ser envasado nas descontraídas garrafas estilizadas mostradas ao longo desse post. Para a sua produção, foram utilizadas três variedades de malte, cada uma com uma finalidade específica, como explica o grupo, justamente afim de atingir as características supramencionadas. Para a base, foi utilizado malte Pale; para o aroma e sabor característicos foi adicionado malte Melanoidina; por fim, responsável pela cor avermelhada que não poderia faltar, foi o malte Red-X, um malte novo desenvolvido pela malteria alemã Best Malz. Já no departamento do lúpulo, justamente por se tratar de uma cerveja inglesa, o grupo optou pelo tradicionalíssimo Fuggle, um lúpulo aromático com características herbais, (que lembra uma caminhada no final do verão pelos campos verdes do norte britânico, segundo a ilustríssima Melissa Cole!), e que vem ditando as regras em termos de lúpulo no Reino Unido há quase 150 anos, tendo sido cultivado pela primeira vez em 1875. O uso do Fuggle na Irish Red da Giramunddo mantém a linha e condiz com o estilo, já que o lúpulo desempenha apenas uma função auxiliar nesse estilo.

Mas vamos lá, chega de floreios, segue o que eu achei dessa primeira Giramunddo que tive o prazer de degustar.

Uma vez saída de seu ilustre vasilhame e tendo se acomodado no copo que escolhi para a receber, a bebida de cor cobre avermelhado – lembrando ferrugem de alguma forma – desprendeu aromas belíssimos, de frutas vermelhas e caramelo. Pela primeira vez tive a real impressão de sentir não aquele aroma tradicional de frutas vermelhas, mas sim um aroma de frutas vermelhas muito semelhante àqueles iogurtes mais elaborados de framboesa e amoras, por exemplo. Não é um aroma tão fácil, mas sim algo mais denso mesmo, permeado com o caramelo do malte, que se apresenta de forma nada tímida, e a meu ver deve ser o responsável pelo aroma mais cheio.

A coroa da cerveja se apresentou de forma muito elegante também, com bolhas fininhas e bem uniformes, nada a reclamar. Da mesma forma a retenção é boa, deixando, por fim, um estreito tapetinho branco sobre a bebida. O lacing nas paredes é tímido, apesar de bastante curto, ficando as bolhas mesmo sobre a bebida e muito pouco nas paredes do copo.

O mouthfeel da bebida é lindo, muito intenso e deixando em evidência a forma encorpada da cerveja. Apesar de estar esperando algo mais leve e de mouthfeel menos intenso, a bebida me surpreendeu bastante nesse ponto. O lúpulo desempenha um papel de coadjuvante, nada demais. O malte, também, como era de se esperar, faz as honras na boca do degustador, dominando o sabor por inteiro, e inundando a boca com seu sabor doce característico e caramelo muito intenso. Excelente.

A carbonetacao é baixa, deixando aquele sprinkel apenas nas laterais da boca.


O final é demorado e bastante seco, condizente com o estilo; já o retrogosto não é nem muito seco, nem doce, mas sim muito mais para um amargo de curta duração.

Enfim, gostei muito da cerveja, uma cerveja leve a ponto de poder se beber mais de uma garrafa facilmente, ao mesmo tempo em que apresenta caráter e uma intensidade de peso – ou seja nada de cervejinha leve. É de grande drinkability, o que não significa simples nesse caso. Desde a apresentação, até o sabor caramelizado, a cerveja convenceu. Pontos altos foram, além do fato de a cerveja condizer muito bem com o estilo proposto, o aroma singular, e o mouthfeel intenso. Pontos não tão altos ficaram por conta do lacing, ainda que isso seja absolutamente secundário, e o retrogosto esse sim, bastante simples e um pouco solto. No mais, muito agradável.

Gostaria de deixar aqui meus sinceros parabéns ao grupo, meu muito obrigado pela oportunidade de inaugurar aqui no site as resenhas feitas a partir de cervejas de amigos, e meus votos de muito sucesso nessa caminhada. Se o mercado de cervejas artesanais, ou melhor, de cervejas de garagem, está crescendo cada vez mais, devo dizer que de alguma forma acho que a Giramunddo larga com um pé na frente.



Wir hopfen alles Gute!
Wilhelm Stein

PS: Infelizmente nesse post, por hora, há apenas fotos obtidas junto ao facebook da cervejaria. As fotos que tirei quando da degustação estão no meu computador, o qual resolveu não funcionar mais de alguns dias pra cá. Caso eu consiga resgatá-las eu as insiro aqui.

2 comentários:

  1. Caro Colega Jan,

    Muito bem estruturado e elaborado seu texto, parabéns e que bom poder ter contribuído para isso hehehe. Obrigado pelo empenho! Forte abraço e boa semana!

    Ariel Peixoto

    ResponderExcluir
  2. Cara,
    se me permite. Melhor texto sobre Irish Red que já encontrei nas fuçadas pela web. To fazendo uma Irish Red Ale aqui e como o "trem"ta querendo dar certo, pesquisando mais sobre ela, onde encontrar o melhor malte x preço, cai aqui.

    Me manda um email. Quero lhe mostrar a que eu to fazendo aqui entre as montanhas de "Belzonte/MG" Meu email é: aodesign20@gmail.com

    Abraço,
    Alexandre Oliveira

    ResponderExcluir