Ilustríssimos, é com uma
alegria pra lá de imensa que escrevo o post que vossas excelências estão a ler.
Isso porque, após apenas 2 meses desde que decidi que iria incluir em meu blog
também avaliações de cervejas, recebi o primeiro pedido de amigos para que
escrevesse algo a respeito de sua cerveja e o publicasse por aqui.
Como muitos de vocês sabem, me
nego veementemente a incluir nessa singelo blog posts desses que vocês
encontram a dar com o pé internet afora, de criaturas “julgando” cervejas (cujo texto completo se resume a: “cor dourada, aroma doce com notas de pirilimpimpin e sabor de vidro temperado); e fazendo blogs inteiros para hospedar isso. Longe de mim julgar certo e errado, ou dizer o que cada um deve fazer com seu blog, mas um pouco de estudo e conhecimento, bem como um texto bem elaborado fazem toda a diferença, ainda mais quando se trata de um assunto tão complexo,e ao mesmo tempo tão prazeroso de se estudar como é o mundo da cerveja. Bom desta forma demorei muito a me convencer a fazer o primeiro, até que em
fevereiro tomei coragem, venci as barreiras por mim mesmo impostas e resolvi
incluir também uma resenha por aqui.
Pelo visto não foi uma má
decisão, haja visto que o feedback que tenho recebido é excelente, mesmo
daquele punhado de leitores dentre vós que adoram os textos de 10 páginas
descrevendo até mesmo os hobbies das leveduras selvagens belgas. E foi dessa
forma, e graças a essa nova fase do blog que surgiu a oportunidade de degustar
e escrever a respeito da Irish Red Ale da Giramunddo. Após coletar mais algumas
informações junto ao orgulhoso pessoal da microcervejaria curitibana, consegui
enfim escrever esse - quiçá histórico - post.
Conheci a cerveja e por tabela
um pouco mais da cervejaria Giramunddo através de um colega de trabalho, o qual
certo dia teve a feliz ideia de trazer um exemplar para que eu o pudesse
degustar e quem sabe tagarelar um pouco a respeito. A Giramunddo (nome
inspirado na música Giramunddo, do Manu Chao) é uma cervejaria curitibana
conduzida pelos três amigos Nardel Correa
Peixoto - sommelier de cervejas pela Universidade Positivo, além de pai de meu
colega - Augusto Koga e Marcelo Freitas, ambos cervejeiros caseiros há 3 anos,
e assim como Nardel prestes a se formarem sommeliers de cerveja pela Science of
Beer.
“Com
boas cervejas podemos divulgar ainda mais a cultura cervejeira na região e
fazer com que mais pessoas conheçam as cervejas artesanais, promovendo o
consumo consciente de cervejas.” - Giramunddo
Assim como
quase todos os outros projetos cervejeiros, essa microcervejaria iniciou os
trabalhos com um investimento bastante modesto, de apenas 1300 reais - preço
médio de um kit de homebrewing como se pode encontrar com facilidade na
internet. Hoje, após alguns lotes de cerveja e bastante experiência adquirida,
o patrimônio cresceu, girando em torno de 3000 reais dedicados exclusivamente à
produção, segundo informações do próprio pessoal.
Das
instalações da cervejaria fazem parte, entre outros: um fogareiro de alta
pressão, três panelas, filtro, resfriador, um fermentador e uma geladeira. Além
disso, as quatro geladeiras disponíveis para fermentação e maturação permitem o
armazenamento – nada modesto para um projeto relativamente pequeno – de 160
litros de cerveja fermentando ou maturando ao mesmo tempo. Entretanto, essa
capacidade não consegue ainda ser totalmente aproveitada, uma vez que as
panelas permitem a fabricação, por lote, de apenas 40 litros.
Essa
capacidade deverá ser aumentada num futuro próximo, o que será necessário se os
cervejeiros quiserem alcançar seu sonho de registrar as suas cervejas junto ao
MAPA, requisito para que possam ser produzidas em escala comercial e ser encontradas nas melhores lojas especializadas da cidade; e por que não permitir
que os três integrantes passem a viver disso, certo?
Dentre as
cervejas que já foram produzidas pela Giramunddo, há estilos tão variados
quanto Vienna Lager, Foreign Extra Stout, Tripel e IPA, além dessa Irish Red.
Já é um bom leque para um projeto tão recente, motivo pelo qual os integrantes
admitem que o objetivo no momento é aperfeiçoar as receitas já conhecidas,
aventurando-se apenas aos poucos em outros estilos. Uma escolha prudente, a meu
ver, para não perder o foco e acabar fazendo cervejas apenas meia-boca na ânsia
de experimentar de tudo.
No caso da
Irish, a escolha por parte dos integrantes de fazer esse estilo foi também no
sentido de experimentar, uma vez que, apesar de gostarem muito do estilo e das
características mais maltadas, não haviam feito nenhuma cerveja nesse sentido.
A cerveja
A cerveja
Irish Red Ale (termo raramente pronunciado na Irlanda, mas conhecida assim
mundo afora), é um estilo que conta com uma ótima drinkability, suave e fácil de degustar; é uma
cerveja conhecida antes de mais nada pela sua bela coloração âmbar-avermelhada,
e suas fortes características de malte, bem como o docinho caramelizado
proveniente delas. Além disso, o uso de maltes torrados quando da fabricação
desse estilo cada vez mais popular também em terras tupiniquins, tende a
conferir um final seco, com aparições apenas muito tímidas por parte do amargor
do lúpulo.
Como já mencionado, por gostarem
do estilo, e se identificarem com justamente essas características, o pessoal
da Giramunddo resolveu dar uma chance e enveredar por esse novo caminho. Eu
gostei do resultado, achei que faz jus ao estilo, sendo bastante condizente.
O exemplar da
ilustre cervejaria passou por um tempo de maturação de 6 semanas antes de ser
envasado nas descontraídas garrafas estilizadas mostradas ao longo desse post. Para
a sua produção, foram utilizadas três variedades de malte, cada uma com uma
finalidade específica, como explica o grupo, justamente afim de atingir as
características supramencionadas. Para a base, foi utilizado malte Pale; para o
aroma e sabor característicos foi adicionado malte Melanoidina; por fim,
responsável pela cor avermelhada que não poderia faltar, foi o malte Red-X, um
malte novo desenvolvido pela malteria alemã Best Malz. Já no departamento do
lúpulo, justamente por se tratar de uma cerveja inglesa, o grupo optou pelo
tradicionalíssimo Fuggle, um lúpulo aromático com características herbais, (que
lembra uma caminhada no final do verão pelos campos verdes do norte britânico,
segundo a ilustríssima Melissa Cole!), e que vem ditando as regras em termos de lúpulo no Reino Unido há quase 150
anos, tendo sido cultivado pela primeira vez em 1875. O uso do Fuggle na Irish
Red da Giramunddo mantém a linha e condiz com o estilo, já que o lúpulo
desempenha apenas uma função auxiliar nesse estilo.
Mas vamos lá,
chega de floreios, segue o que eu achei dessa primeira Giramunddo que tive o
prazer de degustar.
Uma vez saída
de seu ilustre vasilhame e tendo se acomodado no copo que escolhi para a
receber, a bebida de cor cobre avermelhado – lembrando ferrugem de alguma
forma – desprendeu aromas belíssimos, de frutas vermelhas e caramelo. Pela
primeira vez tive a real impressão de sentir não aquele aroma tradicional de
frutas vermelhas, mas sim um aroma de frutas vermelhas muito semelhante àqueles
iogurtes mais elaborados de framboesa e amoras, por exemplo. Não é um aroma tão
fácil, mas sim algo mais denso mesmo, permeado com o caramelo do malte, que se apresenta
de forma nada tímida, e a meu ver deve ser o responsável pelo aroma mais cheio.
A coroa da
cerveja se apresentou de forma muito elegante também, com bolhas fininhas e bem
uniformes, nada a reclamar. Da mesma forma a retenção é boa, deixando, por fim,
um estreito tapetinho branco sobre a bebida. O lacing nas paredes é tímido, apesar
de bastante curto, ficando as bolhas mesmo sobre a bebida e muito pouco nas
paredes do copo.
O mouthfeel
da bebida é lindo, muito intenso e deixando em evidência a forma encorpada da
cerveja. Apesar de estar esperando algo mais leve e de mouthfeel menos intenso,
a bebida me surpreendeu bastante nesse ponto. O lúpulo desempenha um papel de
coadjuvante, nada demais. O malte, também, como era de se esperar, faz as
honras na boca do degustador, dominando o sabor por inteiro, e inundando a boca
com seu sabor doce característico e caramelo muito intenso. Excelente.
A
carbonetacao é baixa, deixando aquele sprinkel apenas nas laterais da boca.
O final é
demorado e bastante seco, condizente com o estilo; já o retrogosto não é nem
muito seco, nem doce, mas sim muito mais para um amargo de curta duração.
Enfim, gostei
muito da cerveja, uma cerveja leve a ponto de poder se beber mais de uma
garrafa facilmente, ao mesmo tempo em que apresenta caráter e uma intensidade
de peso – ou seja nada de cervejinha leve. É de grande drinkability, o que não
significa simples nesse caso. Desde a apresentação, até o sabor caramelizado, a
cerveja convenceu. Pontos altos foram, além do fato de a cerveja condizer muito
bem com o estilo proposto, o aroma singular, e o mouthfeel intenso. Pontos não
tão altos ficaram por conta do lacing, ainda que isso seja absolutamente
secundário, e o retrogosto esse sim, bastante simples e um pouco solto. No
mais, muito agradável.
Gostaria de
deixar aqui meus sinceros parabéns ao grupo, meu muito obrigado pela
oportunidade de inaugurar aqui no site as resenhas feitas a partir de cervejas
de amigos, e meus votos de muito sucesso nessa caminhada. Se o mercado de
cervejas artesanais, ou melhor, de cervejas de garagem, está crescendo cada vez
mais, devo dizer que de alguma forma acho que a Giramunddo larga com um pé na
frente.
Wir hopfen alles Gute!
Wilhelm Stein
PS: Infelizmente nesse post, por hora, há apenas fotos obtidas junto ao facebook da cervejaria. As fotos que tirei quando da degustação estão no meu computador, o qual resolveu não funcionar mais de alguns dias pra cá. Caso eu consiga resgatá-las eu as insiro aqui.
Caro Colega Jan,
ResponderExcluirMuito bem estruturado e elaborado seu texto, parabéns e que bom poder ter contribuído para isso hehehe. Obrigado pelo empenho! Forte abraço e boa semana!
Ariel Peixoto
Cara,
ResponderExcluirse me permite. Melhor texto sobre Irish Red que já encontrei nas fuçadas pela web. To fazendo uma Irish Red Ale aqui e como o "trem"ta querendo dar certo, pesquisando mais sobre ela, onde encontrar o melhor malte x preço, cai aqui.
Me manda um email. Quero lhe mostrar a que eu to fazendo aqui entre as montanhas de "Belzonte/MG" Meu email é: aodesign20@gmail.com
Abraço,
Alexandre Oliveira