sábado, 29 de junho de 2013

Pumpkin Ale

Confrades,

Após um intervalo quiçá longo demais, volto a escrever um post relativo a determinado estilo cervejeiro. Saindo um pouco das terras germânicas, cujas cervejas já foram tema em alguns posts por aqui, trago hoje um pouco mais sobre a interessantíssima Pumpkin Ale. Tendo apreciado um exemplar dessa iguaria nos últimos dias aqui em Curitiba, fui logo atrás de mais informações a seu respeito. Espero que gostem do resumo e que, como eu, possam aprender um pouco a respeito dessa cerveja que já pelo seu nome desperta curiosidade.


Pump-o-que?

A Pumpkin ale é uma cerveja tipicamente americana, concebida no século 18 por colonizadores ingleses. Na Inglaterra, a Pumpkin Ale só começou a ser produzida após a introdução da abóbora por meio de viajantes oriundos do novo mundo. Ao que parece, os métodos de fabricação de Pumpkin Ales são tão variados quanto é o numero de cervejarias que se aventuram nessa empreitada. Via de regra, a Pumpkin Ale possui coloração alaranjada tendendo ao âmbar, um sensível aroma de malte e claro, de abóbora. Atualmente, a cerveja geralmente é dotada de outros condimentos, tradicionalmente utilizados na fabricação de bolos (e doces) de abóbora (pumpkin pie), tais como canela, noz-moscada, pimenta da Jamaica, baunilha e gengibre. O final tende a ser muito seco, devido aos açúcares próprios da abóbora.

A tal da abóbora e a cerveja

A abóbora pertence à família das Cucurbitaceae sendo rica em açúcares e amidos. A palavra inglesa Pumpkin vem do grego pepon, o que significa algo como um grande melão. No inglês antigo, a palavra era muitas vezes pronunciada pumpion ou pompion. A receita mais antiga da qual se tem registros em termos de Pumpkin Ale trata apenas do uso de suco de abóbora, sem mencionar a adição de cereais maltados; o que fazia do produto em si mais uma espécie de vinho do que uma ale. A receita, datada precisamente de fevereiro de 1771 foi publicada pela American Philosophical Society:

RECEIPT FOR POMPION ALE

Let the Pompion be beaten in a Trough and pressed as Apples. The expressed Juice is to be boiled in a Copper a considerable Time and carefully skimmed that there may be no Remains of the fibrous Part of the Pulp. After that Intention is answered let the Liquor be hopped cooled fermented &c. as Malt Beer.

A cerveja hoje

6-Pack da Buffalo Bill Brewery
Receitas posteriores passaram a incluir também a adição de cereais maltados, procedimento que se mantém até os dias de hoje. Quanto aos lúpulos, por se tratar de um ingrediente (nesse caso específico) muito menos importante, não há uma regra clara sobre qual a espécie mais indicada, sendo utilizadas variedades tanto americanas quanto inglesas. Já os maltes tendem a ser uma mistura mais ou menos constante de grain pale malt, pilsner, München e caramel malt. Da mesma forma as abóboras em si podem ser utilizadas das mais variadas formas. Há cervejarias que adicionam pedacinhos de abóbora, crus e macerados; outros assam a abóbora por cerca de 90 minutos a uma temperatura de 190°C, depois retiram as sementes, o caule e a casca antes de fazer do restante uma polpa. Em termos de processo, há igualmente uma grande variedade de procedimentos. Há quem adicione a abóbora ao mosto, o que tem por vantagem deixar que as enzimas presentes no mosto trabalhem os amidos do vegetal. Nesse caso, a abóbora precisa ser cozida antes, até que o seu interior obtenha uma consistência gelatinosa, afim de que a transformação possa ocorrer. Outros preferem adicionar apenas quando do aquecimento, o que posteriormente afeta a turbidez da cerveja. Cervejarias que produzem Pumpkin Ale em grande escala, por vezes optam pela utilização de purê de abóbora. Quanto aos outros condimentos mencionados, são dois os modos mais comuns de se proceder, podendo-se adicioná-los ao kettle, envoltos em uma espécie de pano ou gaze e fervendo por 15 minutos, ou então juntar os condimentos diretamente ao liquido em processo de fermentação, o que confere à bebida um sabor mais adstringente. Por fim, outra técnica muito difundida é a de se embeber os condimentos em vodca  (!!) por alguns dias, para então adicionar ao processo de fermentação.

E o sabor?

Quanto ao sabor, a Pumpkin Ale pode tender para várias direções. Há exemplares bastante doces, nos quais os condimentos são fortemente perceptíveis, lembrando um doce de abóbora ou pumpkin pie. Outros não apresentam algo muito fora do comum, parecendo outra ale qualquer, com um quê de nozes, leve sabor de abóbora e uma pitada de condimentos.


A Pumpkin é por excelência uma cerveja típica do final do verão e outono; quando ela pinta nos bares, seja na América ou na Europa, é sinal de que o inverno está chegando.



Pumpkin Ale - Bier Hoff Curitiba

Aproveitando o tema, aqui vai um pequeno review da nova Pumpkin feita pela Bier Hoff em Curitiba.
A Pumpkin Ale da Bier Hoff em Curitiba
O Chopp tem um sabor e um aroma muito doce, com não apenas notas mas um verdadeiro assalto olfativo de abóbora; juntam-se a esse aroma outros aromas florais ricamente frutados - excelentes. A formação de espuma é baixa mas consistente, apresentando boa retenção e ótimo lacing. Na boca ela apresenta forte efervescência, boa carbonetação, notas de caramelo (dando continuidade ao doce apresentado pelo aroma); notas perceptíveis de malte e de gengibre. Tem aspecto geral muito refrescante ainda que com potencial para ser enjoativa (por ser relativamente doce). O retrogosto é bastante agradável sendo seco e deixando uma forte sensação adstringente nos cantos da boca.
É uma cerveja que a vale a pena apreciar. 

Wir hopfen alles Gute!
Wilhelm Stein

Referências

The Oxford Companion to Beer - Garrett Oliver
Beeradvocate.com
Let Me Tell You About Beer - Melissa Cole

2 comentários:

  1. Sensacional o post!
    Eis uma cerveja que eu imaginava que não fosse gostar e me surpreendi...

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    1. Obrigado Thiago!
      De fato é uma cerveja bacana, infelizmente, como constatamos, nao dá para beber mais do que uns dois copos!

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