Confrades,
Após um
intervalo quiçá longo demais, volto a escrever um post relativo a determinado
estilo cervejeiro. Saindo um pouco das terras germânicas, cujas cervejas já
foram tema em alguns posts por aqui, trago hoje um pouco mais sobre a
interessantíssima Pumpkin Ale. Tendo apreciado um exemplar dessa iguaria nos
últimos dias aqui em Curitiba, fui logo atrás de mais informações a seu
respeito. Espero que gostem do resumo e que, como eu, possam aprender um pouco
a respeito dessa cerveja que já pelo seu nome desperta curiosidade.
Pump-o-que?
A Pumpkin
ale é uma cerveja tipicamente americana, concebida no século 18 por
colonizadores ingleses. Na Inglaterra, a Pumpkin Ale só começou a ser produzida após a
introdução da abóbora por meio de viajantes oriundos do novo mundo. Ao que
parece, os métodos de fabricação de Pumpkin Ales são tão variados quanto é o
numero de cervejarias que se aventuram nessa empreitada. Via de regra, a
Pumpkin Ale possui coloração alaranjada tendendo ao âmbar, um sensível aroma de
malte e claro, de abóbora. Atualmente, a cerveja geralmente é dotada de outros
condimentos, tradicionalmente utilizados na fabricação de bolos (e doces) de
abóbora (pumpkin pie), tais como canela, noz-moscada, pimenta da Jamaica,
baunilha e gengibre. O final tende a ser muito seco, devido aos açúcares
próprios da abóbora.
A tal da abóbora e a cerveja
A abóbora
pertence à família das Cucurbitaceae sendo rica em açúcares e amidos. A palavra inglesa Pumpkin vem do grego pepon, o que significa algo como um
grande melão. No inglês antigo, a palavra era muitas vezes pronunciada pumpion
ou pompion. A receita mais antiga da qual se tem registros em termos de Pumpkin
Ale trata apenas do uso de suco de abóbora, sem mencionar a adição de cereais
maltados; o que fazia do produto em si mais uma espécie de vinho do que uma
ale. A receita, datada precisamente de fevereiro de 1771 foi publicada pela American Philosophical Society:
RECEIPT FOR POMPION ALE
Let the Pompion be beaten in a Trough and pressed
as Apples. The expressed Juice is to be boiled in a Copper a considerable Time
and carefully skimmed that there may be no Remains of the fibrous Part of the
Pulp. After that Intention is answered let the Liquor be hopped cooled
fermented &c. as Malt Beer.
A cerveja hoje
6-Pack da Buffalo Bill Brewery |
Receitas
posteriores passaram a incluir também a adição de cereais maltados,
procedimento que se mantém até os dias de hoje. Quanto aos lúpulos, por se
tratar de um ingrediente (nesse caso específico) muito menos importante, não há
uma regra clara sobre qual a espécie mais indicada, sendo utilizadas variedades
tanto americanas quanto inglesas. Já os maltes tendem a ser uma mistura mais ou
menos constante de grain pale malt, pilsner, München e caramel malt. Da mesma
forma as abóboras em si podem ser utilizadas das mais variadas formas. Há
cervejarias que adicionam pedacinhos de abóbora, crus e macerados; outros assam
a abóbora por cerca de 90 minutos a uma temperatura de 190°C, depois retiram as
sementes, o caule e a casca antes de fazer do restante uma polpa. Em termos de
processo, há igualmente uma grande variedade de procedimentos. Há quem adicione
a abóbora ao mosto, o que tem por vantagem deixar que as enzimas presentes no
mosto trabalhem os amidos do vegetal. Nesse caso, a abóbora precisa ser cozida
antes, até que o seu interior obtenha uma consistência gelatinosa, afim de que
a transformação possa ocorrer. Outros preferem adicionar apenas quando do
aquecimento, o que posteriormente afeta a turbidez da cerveja. Cervejarias que
produzem Pumpkin Ale em grande escala, por vezes optam pela utilização de purê
de abóbora. Quanto aos outros condimentos mencionados, são dois os modos mais comuns
de se proceder, podendo-se adicioná-los ao kettle, envoltos em uma espécie de
pano ou gaze e fervendo por 15 minutos, ou então juntar os condimentos
diretamente ao liquido em processo de fermentação, o que confere à bebida um
sabor mais adstringente. Por fim, outra técnica muito difundida é a de se
embeber os condimentos em vodca (!!) por alguns dias, para então adicionar ao
processo de fermentação.
E o sabor?
Quanto ao
sabor, a Pumpkin Ale pode tender para várias direções. Há exemplares bastante
doces, nos quais os condimentos são fortemente perceptíveis, lembrando um doce
de abóbora ou pumpkin pie. Outros não apresentam algo muito fora do comum,
parecendo outra ale qualquer, com um quê de nozes, leve sabor de abóbora e uma
pitada de condimentos.
A Pumpkin é por excelência uma cerveja típica do final do verão e outono; quando ela
pinta nos bares, seja na América ou na Europa, é sinal de que o inverno está
chegando.
Pumpkin Ale - Bier Hoff Curitiba
Aproveitando o tema, aqui vai um pequeno review da nova Pumpkin feita pela Bier Hoff em
Curitiba.
A Pumpkin Ale da Bier Hoff em Curitiba |
O Chopp tem
um sabor e um aroma muito doce, com não apenas notas mas um verdadeiro assalto
olfativo de abóbora; juntam-se a esse aroma outros aromas florais ricamente frutados - excelentes. A formação de espuma é baixa mas consistente, apresentando boa retenção
e ótimo lacing. Na boca ela apresenta forte efervescência, boa carbonetação, notas
de caramelo (dando continuidade ao doce apresentado pelo aroma); notas
perceptíveis de malte e de gengibre. Tem aspecto geral muito refrescante ainda
que com potencial para ser enjoativa (por ser relativamente doce). O retrogosto
é bastante agradável sendo seco e deixando uma forte sensação adstringente
nos cantos da boca.
É uma cerveja que a vale a pena apreciar.
Wir hopfen alles Gute!
Wilhelm Stein
Referências
The Oxford Companion to Beer - Garrett Oliver
Beeradvocate.com
Let Me Tell You About Beer - Melissa Cole
Sensacional o post!
ResponderExcluirEis uma cerveja que eu imaginava que não fosse gostar e me surpreendi...
Obrigado Thiago!
ExcluirDe fato é uma cerveja bacana, infelizmente, como constatamos, nao dá para beber mais do que uns dois copos!