quarta-feira, 4 de março de 2015

Karmeliten - Brocardus 1844

Ilustres,


em minha última visita à Alemanha, certo dia me deparei com uma caixa bem peculiar no supermercado. Era uma caixa toda estilizada, de metal, contendo nada menos que 12 garrafas de cervejas produzidas por cervejarias artesanais da Bavária. Eu bem que gostaria de postar uma foto da caixa aqui, mas como tive meu celular roubado recentemente, e as únicas fotos que eu tinha estavam nele, vou ficar devendo. De qualquer forma seguem nesse post algumas fotos de algumas das garrafas, aquelas nas quais eu tive a sensata ideia de fotografar com a máquina, sugiro scrollarem até o final do post para vê-las.

Eu acabei por beber a grande maioria das cervejas por lá mesmo, e infelizmente não me dei ao trabalho de anotar as minhas impressões; mesmo porque acho muito chato quando o sujeito fica anotando coisas e fazendo observações pedantes em meio a uma roda de amigos que não quer nada mais que apenas beber sua cerveja em paz. Pois bem, dessa forma restaram-me apenas as fotos de minha câmera. Bem, quase, porque eu acabei por trazer duas garrafas aqui para nossa terrinha.

Como não sei quando volto ao solo germânico, fiquei guardando esses dois exemplares com distinto esmero; até que aquela fatídica data de vencimento acabou por se aproximar. Não tive escolha, e acabei por levá-las ao matadouro (ok, na verdade tirei-as do armário, levei-as à geladeira, da geladeira ao copo, e aí sim, ao triste fim).

Enfim, desta feita aproveito esse post para escrever um pouco sobre a Karmeliten Spezialbier Brocardus 1844. Essa cerveja é feita com três tipos de malte e dois lúpulos especiais de Hallertau.


A cervejaria Karmeliten em si foi fundada em 1367, e pertence à mesma família desde 1879, tendo iniciada, claro, como uma cervejaria particular de um mosteiro, e evoluído desde então para uma cervejaria comercial, ainda que pequena e particular. Utilizados são apenas ingredientes do estado da Bavária, e a produção de todos os rótulos segue o Reinheitsgebot.

Segundo o que contam rótulo da cerveja e o site da cervejaria, a cerveja em questão aqui foi trazida à cervejaria pelo irmão Brocardus Bauer, mestre cervejeiro do mosteiro em 1844, de suas andanças pelo mundo. Baseado na receita daquela época, ainda hoje é feita essa cerveja, tendo por base exatamente as mesmas variantes de lúpulo da região de Hallertau.

Bem, quanto à cerveja, foi essa a minha impressão:

Uma vez no copo, a formação de espuma dessa lager foi, como havia de ser, fácil e rápida, requerendo um certo cuidado ao escorre-la no santo recipiente. O Aroma que logo saltou do copo, de forma muito acentuada e impossível de passar desapercebido, foi o de mel; sim, isso mesmo, a única coisa em que pude pensar assim que inalei pelas primeiras vezes foi mel e própolis, um aroma daqueles remedinhos e pastilhas para quando se tem dor de garganta. Isso é explicado pelos lúpulos aromáticos utilizados, e que segundo a cervejaria têm exatamente esse propósito (é claro que as variantes utilizadas não são divulgadas). Excelente, novo para mim (exceto em honey beers, claro); mas muito bom; gostei tanto que acabei por fungar naquele copo até que a espuma tivesse se esvaído quase que por completo. Ah sim, tinha também um tom de caramelo, e umas pitadas florais e o malte por fim também se fez presente. Mas o mel foi o grande personagem aromático, sem dúvida.

A espuma, como eu disse, é generosa, ainda que a retenção do corpo alto seja breve. A retenção como um todo é boa, resumindo-se contudo àquela coroa na borda do copo, não sem antes deixar uma bela renda nas paredes de vidro. A cor da cerveja é de um dourado escuro, ou cobre claro, não sei bem, só sei que é bonita, e condiz com os aromas emanados.

No sabor, persiste o mel e aquela memória de própolis. Um quê de secura na boca, e uma carbonetação bem peculiar, não em toda a boca, mas apenas localizada nos cantos, mas muito acentuada e quase ácida; também um pouco adstringente, numa boa combinação com a secura proporcionada. Por fim percebe-se as notas florais, um ótimo final para o conjunto. O Álcool continua escondido, ou melhor, jogado para o canto com todo esse assalto de mel. O lúpulo desempenha com louvor o seu papel aromático, como descrito, desdenhando totalmente de todo e qualquer dever que por ventura tivesse em termos de conferir algum amargor à cerveja além do necessário. Não que seja uma cerveja excessivamente doce, longe disso. O equilíbrio é ótimo, é uma Pils excelente, com o amargor certo transparecendo por detrás do doce caramelo e mel.

 Gostei da cerveja. Uma lager bem elaborada, de sabor único e bem fora do usual por essas bandas. Admito que o aroma promete um pouco além do que o sabor tem a oferecer, mas nada muito grave. Creio que será difícil, ou mesmo impossível de encontrá-la por aqui, e mesmo em solo germânico está longe de ser uma cerveja conhecida. Mas certamente vale a pena. Também não é nada enjoativa, apesar do doce de mel, podendo, creio eu, ser consumida em boa quantidade sem problema algum. Eu recomendo.

E aqui, como mencionado, algumas das fotos das outras cervejas. A primeira garrafa na verdade não fazia parte da caixa, foi uma cerveja trazida da Alsácea para mim por uma grande amiga, mas como foi nos mesmos dias, aproveitei o post!

 




Wir hopfen alles Gute!
Wilhelm Stein

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