Pessoas, hoje eis que, novamente,
tenho o prazer de apresentar aqui nesse ilustre blog uma micro-cervejaria pra
lá de artesanal e tocada por não menos ilustres amigos meus. Trata-se dessa vez
da IPA da Ale Brothers. Há algumas semanas atrás, atendendo um Saturday Way da
cervejaria Way de Pinhais-PR, encontrei no evento dois amigos, Rodrigo e
Paulinha – que por sinal não perdem um evento cervejeiro por essas bandas. Uma
vez que a conversa engrenou, regada a boa cerveja e um ambiente pra lá de
excelente nos pátios da cervejaria, fiquei sabend
o dos dois que estavam a
finalizar uma IPA em suas humildes instalações. Melhor ainda, queriam que eu
gralhasse alguma coisa a seu respeito aqui no meu caderno.
Pois bem, é óbvio que aceitei
esse desafio, ou convite – eita vida difícil, hein? Algumas semanas depois,
recebi então uma simpática garrafinha, no estilo Stubbi mesmo, sem rótulo, sem
fru-fru, apenas um papelzinho preso ao pescoço da garrafa via barbante. Em
suma, uma garrafinha que apenas pela apresentação já deixa claro o sangue
‘roots’ que permeia o espirito cervejeiro de seus criadores.
Mas vamos lá, um pouco mais sobre
a cervejaria em si, ou esse mini coletivo cervejeiro. A produção de bera é
comandada pelo time composto por Rodrigo Seiji, Paulinha Silva e Diogo
Labegalini – fundadores e por hora únicos funcionários da empreitada. Essas são as cabeças pensantes por trás da
cerveja aqui descrita, e que decidiram fazer a sua própria breja há cerca de um
ano como um hobby, para aprenderem mais sobre o assunto mesmo, e para
abastecerem família e amigos. A produção é ortodoxamente dividida entre as três
cabeças após cada lote; uma produção modesta, mas que preza pela qualidade em
detrimento de quantidade (eu apoio!).
A ideia geral, como dito, é de
aprendizado, e melhoria contínua, claro. Como eles mesmo dizem, tem que fazer
bem feito, se não é melhor comprar mesmo. Antes de iniciarem, então, sua
produção cervejeira, os integrantes estudaram muito e durante bastante tempo
tudo que tem a ver com produção artesanal, para já irem acertando desde o
início o máximo possível; claro que a maior parte do aprendizado vem apenas com
a experiência, mas uma bagagem inicial nunca é demais. Além disso, em termos
monetários, o investimento inicial foi de cerca de 1000 reais em equipamentos (o
limite inferior para esse tipo de instalações).
Para a sua produção cervejeira, o
trio se inspira em conhecidas cervejarias norte-americanas, como a Sierra
Nevada - também bem conhecida por essas bandas tupiniquins. Essa inspiração
leva igualmente a uma produção que reflete os gostos daquele povo redneck, ou seja, dentre os estilos
produzidos pelo pessoal, está todo o mundo da família PA: IPA, APA, Double IPA e também os estilos mais clássicos dos
patrícios britânicos, Stout e sua precursora Porter.
Fugindo um pouco do tradicional,
houve uma produção de Saison (que segundo o pessoal ficou ‘belíssima’ – onde
fica aqui um pedido pessoal desse autor para que seja feita novamente, visto
meu recém criado apreço por esse lindo estilo belga) e Amber Ales.
Para um futuro próximo, a ideia é
investir em beras inglesas e, quando a experiência for suficiente, e eles se
sentirem seguros, quem sabe estilos belgas de uma forma mais ampla – e talvez
uma Weizenbier (sim, façam isso, vocês nem sabem o quanto agradariam esse que
ora escreve!).
Nesse exato momento, estão saindo
duas levas especialmente para o inverno que ora bate à porta: Imperial Stout e
outra Stout com adição de café.
Para a produção desse exemplar em
questão, foram utilizados, nas palavras do mestre cervejeiro, apenas malte pale ale, açúcar (pra deixar a
cerveja com o corpo leve) malte melanoidina, lúpulos e levedura americana
US-05. Os lúpulos utilizados foram Warrior, Centennial, Cascade, Galaxy e
Mosaic.
A cerveja em si
A bera em questão, e que originou
essa gralhação toda que vocês, caríssimos leitores, tiveram a paciência de ler,
é como dito uma belíssima IPA. O pessoal resolveu enveredar pela IPA, além dos
motivos citados acima, por ser o estilo de que mais gostam, e como é pra ser a
cerveja de aniversário de uma ano da cervejaria, tinha que ser algo especial.
Além disso, hopaholics como são, queriam mesmo é meter o pé na jaca, o que se
mostrou na receita: 17L de bera – 375g de lúpulo (8,5% ABV; 100 IBU).
Uma vez vertida no copo, a
cerveja apresentou um colarinho branquinho, bem cremoso, com grande
uniformidade das bolhas fininhas, ainda que aparecessem bolhas maiores
eventualmente. A formação é boa quando o líquido é lançado ao copo, e a
retenção é ampla, muito boa. A coloração é de um dourado bastante escuro,
extremamente turva.
No aroma têm-se um floral
bastante intenso, onde o lúpulo prevalesce, e dita o tom. Mesmo assim o aspecto
floral traz um doce único, bastante fresco e com um cítrico característico,
levando o olfato a belos campos verdes e floridos. Gostei muito.
Uma vez na boca, o que dita o tom
é novamente o lúpulo, arrebentando toda e qualquer papila gustativa com uma enxurrada
de amargor, adstringência e secura. Mesmo assim, há um docinho bem interessante
que se faz presente na entrada, ainda que logo engolido pelo amargor. Esse
docinho, contudo, é persistente, e após deixar a cerveja parada durante algum
tempo, ao se bebê-la novamente o doce consegue manter as rédeas do sabor
durante um pouco mais de tempo; muito interessante, e fica a dica para quem
estiver degustando uma IPA desse tipo; deixem a cerveja parada durante alguns
instantes após já terem tomado o primeiro gole, aí sim a boca se acostuma ao amargor,
e consegue distinguir outros sabores antes jogados para escanteio.
O retrogosto vem com grande
intensidade, como um golpe após alguns instantes. Ele é muito seco e com o
amargor do lúpulo ainda presente.
Por fim, é possível ver que o
lacing, a acompanhar o colarinho, é bom e persistente, deixando uma bela renda
nas paredes do copo.
Enfim, eu gostei muito. Confesso
não ter criado muitas expectativas, uma vez que a empreitada dos amigos é
relativamente recente, e a taxa de sucesso de cervejarias tão jovens é
relativamente baixa. Mas nesse caso a cerveja me surpreendeu muito. Jogou todo
marketing para longe com sua garrafa simplesinha, mas chegou com os dois pés no
peito com seu aroma e sabores dignos de aplausos por parte de todos os
hopaholics!
Parabéns mesmo, continuem assim!
Wilhelm Stein
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