sexta-feira, 31 de maio de 2013

Lacing

Lacing
Confrades, confridas, amigos,

o que é aquela espuminha, aquelas ilhas de espuma fininha que escorrem pelo copo assim que terminamos de beber a cerveja? Sujeira? Má formação de espuma? Sinal de que eu bebi minha cerveja rápido demais, devagar demais, que raios é isso? Ou apenas o doloroso e impiedoso sinal de que o suco terminou, a festa acabou, a segunda-feira nos espera? Pois quantas vezes já nos vimos diante da situação em que o papo, assim como a cerveja, acabou, e estamos nós à mesa observando aquela espuminha escorrer pelo copo. Ou então estamos a brincar com o copo, girando e contorcendo-o a fim de verificar se conseguimos impedir a espuminha de chegar ao fundo, juntando uma ilhazinha aqui, outra ali; vai que a união da espuma produz mais uns últimos golinhos, certo?
Pois bem, fui dar uma olhada para ver se achava algo a respeito desse tal de lacing, e eis aqui o resultado.



Cling, ou lacing, se refere à adesão da espuma da cerveja às paredes do copo durante o consumo da bebida e consequente esvaziamento do copo. Ainda que a maior parte dos apreciadores perceba o cling como sendo um ponto positivo da cerveja, e indicativo de boa qualidade, há quem interprete esse fenômeno de outro modo, associando um alto cling com impurezas na cerveja, uma espuma “suja”. 

Fato é que o aparecimento do cling está relacionado à reação que ocorre entre os polipeptídeos hidrofóbicos e os alfa-ácidos oriundos do lúpulo (responsáveis pela formação da espuma, como descrito no post sobre o colarinho), em ação conjunta com íons metálicos que atuam como pontes dessa associação. Esse fenômeno de “solidificação” não é instantâneo, tomando entre 30 segundos e 2 minutos para ocorrer; apenas entao a espuma terá desenvolvido aderência suficiente para se prender às paredes do copo.

Conforme a cerveja for mais ou menos lupulada, o cling será maior ou menor, em função do teor de alfa—ácidos, o que significa dizer que cervejas mais amargas (lupuladas) tendem a desenvolver espuma com maior cling; esse fica ainda mais aderente se for utilizado extrato de lúpulo concentrado, adicionado posteriormente ao processo de fermentação. O lacing também é influenciado pelo tipo de alfa-ácidos presentes na cerveja (o que depende novamente do lúpulo utilizado), sendo que os alfa-ácidos convencionais, de cadeia curta, proporcionam um cling de espuma mais fina e uniforme.

O cling, assim como a espuma, depende de a superfície do copo estar limpa e livre de lipídios ou partículas de detergente, fatores que inibem formação e retenção de espuma, além de um lacing desenvolvido. Para a medição do cling proporcionado pela cerveja, há instrumentos que medem a área total do copo coberta por espuma após o esvaziamento do copo. Outro método é o de se retirar a espuma do copo, inseri-la em água e medir a absorção de raios ultravioleta dessa mistura (a que ponto chegamos?). Na Alemanha (onde mais?), há um termo para a medição de lacing, o qual é o SHV (Schaum Haftvermögen), ou simplesmente 'poder de aderência da espuma', que é medido tomando-se 3 àreas de tamanhos idênticos num copo, e medindo a àrea coberta por espuma. Um SHV abaixo de 90 indica um lacing fraco; entre 90 e 140 indica lacing normal e acima de 140 é acima da média.

Ainda que ambos os métodos produzam um resultado bastante técnico e preciso da quantidade de cling fornecido por determinada cerveja, o apelo visual proporcionado pela espuma e seu consequente lacing, que é o que conta, de fato, na mesa do botequim, permanecem uma questão reservada unicamente ao confrade em si, o qual haverá, no fim das contas, de julgar se gosta ou não, desse interessante fenômeno.

Veja também o Post sobre Colarinho.

Referências

The Oxford Companion to Beer - Garrett Oliver

The Beer Monkeys

Billy Brew

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